terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Seleção sem sal

Nunca fui um fervoroso torcedor da Seleção. Foi-se o tempo em que torcer para o Brasil dava graça. Quer dizer, é fácil falar da Seleção de 82 e 86, achar muito bonito, muito bacana e que naquele tempo era espetacular ver o escrete canarinho em ação. Eu não vi, apenas suponho. Mas vivo a ressaca das campanhas do tetra e do penta sem qualquer empatia pela Seleção. Esse sentimento contido dá uma colorida no mês da Copa, mas, essa Seleção aí simplesmente não cativa.

Descartemos as polêmicas, os desvios de verba, os conchavos políticos, os black blocs. Felipão entrou, deu corpo à Seleção e nos colocou como favoritos. Sim, favoritos. Temos um time forte e, sobretudo, equilibrado. No entanto, no meio a tanto equilíbrio vejo um time insosso. Sem polêmicas, sem maiores brigas por posição, sem alternativas que faça o torcedor ficar apreensivo ou esperançoso.

Isso é o que mais chama atenção. Não tem ninguém que seja ungido pelo clamor popular. Hernane afiou sua broca um tanto tarde. Walter tem carisma, bola e um porte físico que o afasta do catado nacional. Quem mais? Podem procurar, não tem. Esse ano não teremos um Romário ou um Adriano a criar expectativa até o último nome.

As discussões resumem-se a "não temos um reserva para o Oscar, o mais perto disso é o Hernanes que pode até quebrar um galho de segundo volante". "Qual dos três (Dedé, Réver ou Marquinhos) deveria figurar na 4ª vaga da zaga". E só. Lamentam que o Rafinha está bem no Bayern mas já estamos bem resolvidos na direita. 

Polemize, Felipão! Leve o Rafinha no lugar do Maxwell e improvise o Daniel Alves do lado esquerdo. Improvise outro se for mais do teu agrado, mas me faça sentir alguma coisa pelo teu time! 

Júlio César. Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz e Marcelo. Luiz Gustavo, Paulinho e Oscar. Hulk, Fred e Neymar. Esse é o time. E se não for, vai de Maicon na direita. Quem sabe Fernandinho na cabeça-de-área. E Dante na zaga só se alguém machucar. Ponto. É isso. É realmente tudo isso?

Apesar da campanha vitoriosa na Copa das Confederações ano passado, com direito a baile na Espanha por 3 a 0, a impressão que fica é de uma falsa superioridade. Bernard e Willian são ótimos jogadores, mas alguém acredita piamente que vão entrar e resolver a parada, mudar a cara do jogo? São jovens, a experiência pode pesar, quem sabe na próxima Copa ou se esta fosse ano que vem...

E no gol? O Júlio César vai chegar questionado pela real condição técnica. Escolheu pegar ritmo de jogo na ascendente Major League Soccer. Tudo bem, é experiente, pode não ser um bicho-de-sete-cabeças, afinal, qualquer coisa temos Jefferson e Cavalieri (ou Victor). Ó, céus, já tivemos goleiros melhores. Foi-se o tempo das boas trincas: Marcos, Dida e Rogério; Taffarel, Zetti e Gilmar Rinaldi (sim, ele mesmo).  

Jô é o reserva imediato de Fred, que corre razoável risco de jogar a Copa baleado. O Fred já não é essas coisas, caramba! Cadê aquela safra monstra de atacantes realmente bons? Romário, Ronaldo, Bebeto, Túlio Maravilha, Edmundo, Evair, Muller, Careca? Hein? Puta brincadeira de mau gosto. Vamos depender de Fred meia bomba e Jô? Vamos acreditar que vamos ganhar com isso?

Vamos.

Vamos nos iludir. Torcer conscientes de que Felipão faz um trabalho ótimo, sempre optando pela justiça e coerência em suas convocações. Teremos fé supersticiosa em seu estilo carrancudo e teimoso colhedor de frutos. Uma pena que, diante de tudo isso, a emoção da Copa só vá começar mesmo em junho.





Nenhum comentário:

Postar um comentário