sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A Natural Libertadores

Libertadores. Não tem campeonato no universo que tenha um nome mais imponente. Deixem a Champions League, os astros e suas pompas organizacionais de fora. Falo de Libertadores. O campeonato dos campos acanhados, da pressão, da catimba, do suor, do sangue, das lágrimas. La Copa não é jogada. É conquistada. E logo nos primeiros jogos de sua primeira fase já deixou botafoguenses e atleticanos com o coração na boca.

As derrotas brasileiras seguiram o script da Conmebol, partidas pegadas e placares com diferença mínima de gols. O Botafogo perdeu para o Deportivo Quito por 1 a 0 e o Atlético Paranaense foi derrotado pelo Sporting Cristal por 2 a 1. Semana que vem, no Brasil, ambos saberão quem continuará suas batalhas América Latina adentro.

Um pouco de mais do mesmo: o placar está aberto e tanto Atlético, abençoado pelo gol marcado fora de casa, como Botafogo tem totais condições de evitarem o efeito Tolima. 

Porém, não será tarefa fácil. Culpa da própria Libertadores e seu processo de brasileirização que iniciou nos anos 90. Agora, há mais ou menos 10 anos, a Conmebol adotou uma política democrata permitindo triunfos de equipes que jamais tinham tido o privilégio de desbravar o continente, casos de Once Caldas, Internacional, LDU, Corinthians, Atlético Mineiro.

Acredito que após 4 conquistas consecutivas dificilmente o libertador deste ano será brasileiro. Ainda que nossas equipes, no papel (sempre bom lembrar), sejam mais interessantes que as dos nossos vizinhos. É possível que o Big Brother perceba nossa audácia e resolva agir contra nosso futebol.

Conspirações à parte, espera-se que a foice da arbitragem chicana só cante a partir das oitavas-de-final em diante. Até lá, Darwin será o responsável por consagrar quem segue na guerra. 

Por fim, palpites. Um brasileiro deve cair. Quero acreditar na superação do bom time do Botafogo, mas algo me diz que vai acontecer uma daquelas coisas que só acontecem com o Botafogo. Já o Furacão, a menos que algo dê errado na sua controversa maneira de iniciar uma temporada, deve avançar. 

Mas deixemos que Darwin trabalhe em paz.  

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Guerrero errou

Prefiro interpretar a goleada aplicada pelo Santos sobre o Corinthians por 5 a 1 de outra forma. Exaltar méritos de um time e elencar trocentos erros do adversário não me parece justo o bastante para a construção de um placar que, via de regra, é composto por uma noite atípica de ambos lados. A questão é não se deixar enganar pelas circunstâncias e ser realista quanto à qualidade de cada time.

Até a página dois é possível concordar quando Guerrero afirma que o Corinthians tem o melhor time de São Paulo. Para mim, é um tanto evidente. No papel, o Corinthians tem um bom time, equilibrado e com peças interessantes de reposição. Porém, o atacante faz a ressalva "mas temos de demonstrar no campo". (a matéria tá aqui)

Pato atravessa um momento terrível, Sheik já se procura uma árvore para morrer tranquilo, Romarinho, Douglas e Rodriguinho tem qualidade mas não empolgam como antes. Diego Macedo e Uendel não são laterais fora-de-série. Sobra a soberba. O que no papel é bom precisa de treino, disposição e dedicação para se tornar o melhor no campo.

Eis o segredo do Santos. Um elenco repleto de jovens, um treinador esbanjando motivação e fome. Uma equipe que reconhece sua condição e dela tira sua motivação para superar-se dentro quatro linhas. Bruno Peres é o novo Roberto Carlos? O Geuvânio virou a solução para o lado direito do ataque da seleção depois de nos refrescar a memória quanto ao que era um drible da vaca? Não e não. 

Futebol é para ser jogado e quem decide não é a equipe que tiver mais jogadores renomados. Daí decorre o principal erro de Guerrero no clássico de ontem. Ao receber de Romarinho, achou uma boa ideia fazer uma caminhada com a bola até a área, ganhar um tranco e sofrer um pênalti. Antes tivesse dominado direito para finalizar ou chutado direto, pois o desarme de Gustavo Henrique (puta zagueiro!) foi preciso.

O Corinthians não é o pior, o Santos não é o melhor. Não há motivo para maiores empolgações ou decepções. É um sinal dos deuses do futebol que, invariavelmente, fazem todos os prognósticos errarem.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Surge um novo ídolo

Ele não é atacante. Nem meia armador. Tampouco um marcador implacável. Meu novo ídolo é o ex-treinador de futebol mais pacato do universo: Oswaldo de Oliveira.

Tranquilo. Calmo. Pacato. Adjetivos não faltam para definir Oswaldinho. As passagens por Corinthians, São Paulo e Santos deixaram no torcedor paulista a imagem de um treinador apático. Vê-lo à beira do campo era invariavelmente desesperador. E as coletivas pós-jogo? Uma serenidade irritante independente do resultado.

Depois de colocar o Botafogo na rota da América, Oswaldo de Oliveira retorna ao Peixe e logo nas primeiras rodadas do Paulistão abandonou seu lado contido para se permitir extravasar e ser algo além de um ser humano. Mostrou-se capaz de reagir ao que se passa no campo e a compreender melhor a paixão das arquibancadas.

Ao mandar uma banana aos próprios adeptos e erguer o dedo médio ao adversário, Oswaldo de Oliveira, ao meu ver, dá seu recado: "Vai ser do meu jeito". Quem quiser espernear, vaiar, reclamar, que o faça. Porém, vai ser do jeito do cara. 

Por outro lado, convenhamos, é início de temporada, de trabalho e um pouco de apoio vai bem, obrigado. É justamente esse estouro de miolos nesse momento que tanto chama a atenção.

À parte questões desportivas, fair play ou a falta de educação propriamente dita, todo mundo sabe que profissional do futebol é o melhor quando ganha e o pior quando perde devendo sempre relevar os gritos das arquibancadas.

O ponto aqui é que Oswaldo está mudado! Tem alguma coisa nesse cara! Não é rabugento como Muricy, não é carrancudo igual o Mano e não faz o tipo boa-praça de Kleina. Vai saber que motivação foi essa, que remedinho mágico ele tá tomando, e também não importa. Tudo indica que Oswaldo volta a São Paulo disposto a fazer com que os torcedores mudem de ponto de vista a respeito dele.

A rigor, Oswaldo não é um técnico ruim. Não é dos melhores, concordo. Mas é experiente e parece ter trazido uma boa bagagem do Japão, onde ficou por 4 anos. Basta ver o que fez com o Botafogo (com o Botafogo, caramba!) ano passado. Campeão estadual, vinha bem no Brasileirão, caiu um pouco é verdade, Seedorf colaborou demais, e terminou na zona da Libertadores, isso é um trabalho muito interessante!

Nesta temporada, Oswaldo terá um elenco parecido com o do Botafogo. Sem um Seedorf, o Santos terá um punhado de jovens promissores no elenco, jogadores experientes em posições pontuais para repartir a responsabilidade e Leandro Damião no ataque. É possível realizar boas campanhas nos campeonatos a disputar, embora eu considere arriscado ter tantos garotos no elenco.

Diante de tantas interrogações, Oswaldo chega para ser a exclamação. Vai dar personalidade ao grupo e não importa o que aconteça, vai ser do jeito dele.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Eu gosto do Pato

Eu gosto do Pato. Jovem, rápido, ótimo arremate, experiente. Minha simpatia pelo atacante pode explicada por critérios friamente objetivos, não necessariamente tão pretéritos assim. Ele foi o vice-artilheiro do Corinthians em 2013 com 17 gols. O primeiro? Guerrero, com 18 tentos. Então, calma. A princípio, peguemos leve nas críticas.

Da ascensão meteórica no Internacional às seguidas lesões no Milan, Pato sempre se mostrou um atacante de excelente nível técnico. O estilo meninão de ser e tendo como únicas preocupações táticas correr, puxar contra-ataques, abrir espaços e finalizar fizeram o atacante ter bons momentos e acumular algumas convocações mas, por oscilar demais, jamais se firmou na Seleção.

Assim, surgiu o Corinthians como trampolim para o sucesso de Pato. O Timão precisava de um reforço de impacto na busca pelo bicampeonato da América e o atacante via no clube a chance de voltar a jogar bem e conseguir uma vaga no elenco que disputará a Copa do Mundo.

A euforia deu lugar às críticas. O jeito despreocupado, um tanto displicente, descompromissado de Pato não combinava com o Corinthians. Foi para o banco. Nessa eterna alternância, o desempenho do ataque alvinegro continuava pífio. Mas o alvo fixo das críticas era Pato. Romarinho é isso, Sheik aquilo, mas o Pato...ah, o Pato...

Vá lá que a torcida não quis enxergar o óbvio. Que Pato jamais faria o tipo "vida loca" no campo. Porém, o ápice da crise veio no pênalti batido contra o Grêmio. A maldita cavadinha que eliminou a equipe da Copa do Brasil. Instaurou-se o inferno.

Tite saiu. 2013 acabou. Veio Mano e o promissor 2014. Pato no banco. Lá, quieto. Nesse fim de semana, Mano testa o atacante. Ao seu lado, Sheik. E mais uma atuação discreta. Carimbou a trave, ouviu vaias, saiu para a entrada de Romarinho, mais vaias.

O Paulistão é o campeonato estadual menos pior do país. Mesmo assim tem uns times bizonhos na primeira divisão. Teoricamente, é obrigação ir bem todos os jogos e deixar as atuações mais controversas para os clássicos. Só que o problema do Corinthians está no ataque, não em Pato. Concentrar as críticas é errado, mas cada um que assuma sua responsabilidade.

Se Pato abandonasse só um pouco o estilo pop star e mostrasse algum traço de garra no campo, já aliviaria metade do peso que colocam em suas costas. E sua luta seria sua melhor defesa, independente da (in)competência do meio-campo ou do número de chances criadas. Romarinho ou Pato? Sheik ou Pato? Quem você escolhe? Disposto a se entregar minimamente em prol do time, Pato faria uma dupla explosiva com Guerrero.

Está nas mãos de Pato a escolha. Pode reagir, mostrar ter sangue nas veias ou se contentar a ser um Adriano da vida. Mais um a maltratar o futebol e a viver do nome ou do que foi um dia.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Por dias melhores

São raros os casos de quem escolhe o time quando já se é garoto. Escolher um time pelo ídolo ou esquadrão da época é bastante incomum hoje em dia. Desde sempre seu pai vai lá, cobre você com o macacão do seu time, ensina a gritar gol e tá feito. Daí você cresce e passa a conhecer a história do clube, os ídolos e assim se completa aquela ligação leal e vitalícia com seu time de coração. Acaso, destino, escolha, não importa, mas torcer para o Palmeiras atualmente é por à prova esse amor a cada jogo.

Em dez anos, dois rebaixamentos. O primeiro, em 2002, três anos após a conquista da América. O segundo, no ano em que o time havia conquistado a Copa do Brasil. E há dez anos o palestrino olha a escalação uma, duas, três, milhares de vezes e, com aquele bipolarismo peculiar a cada torcedor apaixonado, ora se anima, ora desconfia, ora chora. De alegria, tristeza, raiva, inconformismo, tanto faz.

E elenco do Verdão 2014, recém-promovido, terá a ingrata missão de tentar evitar os olhares tortos de sua própria torcida e, para piorar, tentar trazer alguma alegria na temporada do centenário do clube. Por alegria entenda-se título(s). Privilégio ingrato.

A base construída na Série B não é ruim. Está anos-luz de ser excelente, mas tem lá seu valor. Kardec não é o centroavante dos sonhos, mas se mostra confortável nas conclusões. Valdívia, inteiro e disposto a evitar questionamentos pós-jogo, é ótimo. Henrique e Wesley dão forma a um time que, como todos os outros, terão pontos fortes e fracos.

Sem dinheiro para contratações de impacto, chega um modesto pacote de reforços. "Uma lembrancinha". O torcedor abre um sorriso amarelo e começa a fuçar o que tem no pacote à espera de que alguma coisa possa ser minimamente aproveitável. Tem um atacante rápido do Bahia, outro que já teve dias melhores, e outro que nunca viu. Dois zagueiros meio baleados, um lateral, um volante, e, opa, um Bruno César! Valeu, tio Paulo!

Todo mundo sabe que o elenco não é lá essas coisas. Entretanto, agora tem-se a real perspectiva em se ter um time de futebol, no mínimo, competitivo.

Um bom desempenho no Paulistão não quer dizer nada. Porém, dá ânimo. Foram-se apenas duas rodadas, mas não tem como negar que esse time do Palmeiras aí faz uma fumaça. A tensão vai ser posta à prova em breve, com os clássicos e fases decisivas (sim, o Verdão vai chegar lá, é certo). Pode perder nas quartas, semi. Pode não ganhar nada o ano todo. Mas dá fortes indícios que não ver ser saco de pancadas. 

Parar de apanhar e começar a bater. Aparentemente o Verdão vai à forra.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Melhor do mundo, sim!

Para o inferno a Premier League e seus milhões e suas estrelas, a Bundesliga com seus estádios lotados, La Liga e os espetáculos dos dois melhores jogadores do mundo. Campeonato bom não é feito só de organização e técnica. Tem que ser nivelado (por cima, por baixo, tanto faz) e imprevisível. E é isso que faz o Brasileirão ser o melhor campeonato da via láctea.

Qual a graça de um campeonato se todos os anos são sempre as mesmas equipes que vão lá e levantam o caneco? Hein? O Campeonato Espanhol está feito sob medida para Barcelona ou Real Madrid decidirem o título entre eles cuja antecedência será definida de acordo com a fase que atravessam. Só agora o Atlético de Madrid luta para conseguir um feito conquistado pelo Valencia na temporada 03-04! 10 anos!

Na Itália, Juventus, Milan e Inter tiram o famoso "dois ou um" e quem sair é campeão. A Roma foi a última engraçadinha a meter a colher na brincadeira do trio e levou o título da temporada 00-01. Portanto, mais de dez anos.

Rainha da cocada preta, a Premier League, criada em 1992, concentra grandes equipes, excelentes jogadores do mundo todo, embates sensacionais mas, no fim das contas, também deixa a cargo de dois ou três times a missão de ser campeão. O conclave inglês historicamente opta por Manchester United. Recentemente, Chelsea e Manchester City, graças ao aporte financeiro ridículo que possuem, começaram a promover alguma rotatividade de campeões. O Arsenal dos anos 90 pra cá uma ou duas vezes por década ganha alguma coisa. E o Liverpool, 2º maior campeão histórico, não é campeão desde 89-90.

Até a Bundesliga do ascendente futebol alemão, físico e envolvente não escapa. Estádios lotados todo jogo e festa e toda pompa e...Bayern, Borussia, Bayern, Borussia. Verdade seja dita, dos europeus o Alemãozão é o mais democrático. Desde 2000, só três times conseguiram quebrar a política do chucrute-com-cerveja local. Wolfsburg (08-09), Stuttgart (06-07) e Werder Bremen (03-04).

Peguem agora o Brasil. Todo ano elenca-se, no mínimo, 8-10 times favoritos só pelo nome e pela camisa. A depender da bola e das recentes apresentações pode-se reduzir para uns 5 os virtuais postulantes ao título. E todo ano tem surpresa! Seja entre os campeões ou entre as primeiras posições na tabela final. Vale dizer que desde 2000 são oito campeões diferentes. 

Não venham me falar de nível técnico, de espetáculo, de craques. Falo de fatos. Nosso campeonato, por mais limitado tecnicamente que seja, ainda é o que promove as decisões mais interessantes justamente pelo equilíbrio peculiar entre a maioria dos times da Série A. 

O futebol brasileiro pode estar vendido, em baixa, contestado, dominado por empresários, politicagem, corrupção e o diabo. Mas ninguém tira a emoção daqueles 3 pontos conquistados na marra fora de casa, aquele jogo de seis pontos que termina em um 1 a 1 ruim para ambos. O Brasileirão é o melhor. E se o mundo não acha, azar do mundo.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Super Bowl da Justiça

Está definido. Denver Broncos e Seattle Seahawks serão os protagonistas do Super Bowl XLVIII (48) em 02.02.2014. É sabido que o esporte não costuma ter surtos de justiça mas a final desta temporada da NFL vai promover o embate das duas melhores equipes da temporada, fato que não ocorria desde o Super Bowl XLIV (44), na temporada 2009-2010.

Curioso notar que aquela final também contava com o protagonismo de Peyton Manning. Então no comando do Indianapolis Colts e já detentor de um título, o quarterback garantiu a melhor campanha na temporada regular, porém sucumbiu diante do New Orleans Saints, de Drew Brees. 

Agora nos Broncos, Manning liderou o melhor ataque da Liga numa campanha de 13 vitórias e 3 derrotas, tal como os Seahawks. E novamente vai entrar favorito no Super Bowl. No entanto, entrará pressionado. Superada a grave lesão que o afastou da temporada de 2011 e tendo mostrado que ainda se apresenta em altíssimo nível, cabe a Peyton vencer apenas mais uma partida para afastar críticas quanto a seu desempenho em decisões e assim assegurar seu segundo título.

A classificação dos Broncos veio de maneira sólida, segura. O duelo épico que se esperava entre Manning e Brady deu lugar a um truncado jogo de xadrez. Tanto que o placar, 26-16, reflete bem as dificuldades que os ataques de Broncos e Patriots tiveram ao longo do jogo.

Já os Seahawks venceram o San Francisco 49ers em um tenso duelo vencido pelo time da casa por 23-17. Pode-se dizer deste jogo que embora Kaepernick e Wilson tenham feito grandes lançamentos e avanços corridos, a constância de Seattle decidiu.

Apesar do equilíbrio durante todo o jogo, Kaepernick foi interceptado duas vezes (uma delas na campanha final, no último minuto, que poderia sair o TD da vitória) e viu Wilson colocar os Seahawks em ótimas posições de campo que renderam pontos preciosos.

Daqui até a final travar-se-á discussão eterna sobre quem vencerá. Deve ser Denver. O melhor ataque, o QB mais mortal, a linha ofensiva mais explosiva. Só que os Seahawks também tem valores individuais interessantes e, se seu quarterback não prima pela experiência, compensa com versatilidade.

Enfim, na fria Nova York sairá o novo campeão com a sensação de que pelo menos um esboço de justiça foi realizado.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Fé no trabalho

Time da fé. Assim é conhecido o São Paulo, apelidos cretinos à parte. A alcunha veio graças aos triunfos conquistados no passado em insólitas circunstâncias. Nesta década, o torcedor tricolor trocou a esperança de títulos por concentrar seu infinito crédito religioso em D. Sebastião do Morumbi. Acreditava-se que o regresso de Muricy Ramalho e sua filosofia laboral poderia recolocar a equipe no caminho das glórias. Mas, será o trabalho suficientemente capaz de transformar um time esforçadamente limitado em campeão? Duvido.

Uma coisa é Muricy chegar numa equipe desmotivada, que tem lá sua meia dúzia de valores individuais, dar uma chacoalhada geral e escapar da degola. Outra é ver o ano virar e não receber material humano capaz de transformar aquele amontoado de marmanjos em algo digno de se chamar time de futebol.

A crônica deficiência defensiva do São Paulo nos últimos anos esbarra não somente na contratação de zagueiros ou laterais de habilidade controversa. O meio-campo perdeu combatividade. Simplesmente não consegue sequer cogitar auxiliar a defesa. Até a criação oscila demais. Ganso não consegue manter a regularidade. Jadson, um ótimo jogador dentro das CNTP, é mais regular que o rival de posição pois é inoperante o tempo todo quando entra em campo.

Não bastasse a auto-sabotagem, o ataque deposita suas fichas em um Luis Fabiano desgastado fisicamente e emocionalmente com as arquibancadas. Para auxiliá-lo na missão maior do futebol, Muricy conta com avantes da estirpe de Osvaldo e Ademílson. Jogadores que não primam pelo melhor da técnica ou da inteligência com a bola nos pés.

E logo no início da temporada, uma derrota apática para o Bragantino, por 2 a 0. Não é motivo para promover o terrorismo de imediato, mas liga o sinal amarelo numa equipe que viu o fantasma do rebaixamento de perto há 3 meses. 

É nesse contexto que Muricy faz a única coisa que pode. Trabalhar. E fazer uma novena por reforços. Quem sabe uma terapia workaholic à lá Laranja Mecânica pode moldar esse elenco em um time. Pode ser. Mas, todos sabemos, mover montanhas é muito mais fácil.


sábado, 18 de janeiro de 2014

O chamado da história

Todo mundo já ouviu falar sobre futebol americano. Uns optam por entendê-lo como um esporte viril e, digamos, truculento. Isso para fugir da eterna polêmica que seria violento e de alto risco em razão dos choques constantes. Mas quem passou a observá-lo pelo lado da diversão e da paixão ganhou um motivo para sorrir todo final/começo de ano. Quando o futebol com os pés chega ao fim e está prestes a retornar ainda morosamente é o momento quente da NFL e, amanhã, tem logo as duas finais de conferência para apreciarmos sem moderação.

Entre parênteses: por finais, entenda-se que a NFL é composta de duas conferências: a NFC (National Football Conference) e a AFC (American Football Conference) e é o campeão de cada conferência que faz aquele evento chamado Super Bowl, que algum dia você já deve ter ouvido falar. Então, se você quer entender algo além do show do intervalo (esse ano teremos Bruno Mars e Red Hot Chili Peppers) esse é o momento ideal.

Voltando ao que interessa, antes de toda pirotecnia dos incríveis eventos megalomaníacos americanos, as finais de cada conferência reservam doses cavalares de emoção que prometem, desde já, incendiar a história da NFL.

Em primeiro lugar porque a final da AFC vai colocar frente-a-frente não somente as duas melhores campanhas, mas dois dos melhores quarterbacks dos últimos tempos. O Denver Broncos, de Peyton Manning, contra o New England Patriots, de Tom Brady (isso, o marido da Gisele B.).

O duelo ganha destaque pela rivalidade entre os lançadores. Vantagem esmagadora para Brady, que venceu 10 vezes, sendo duas em playoffs, ao passo que Manning detém apenas 4 triunfos, um em partidas válidas pela pós-temporada. (dados da ESPN, aqui)

Peyton Manning, campeão do Super Bowl XLI, ostenta uma traiçoeira fama de pipoqueiro nas fases decisivas. Os números não mentem, são 10 vitórias contra 11 derrotas (uma em Super Bowl). Porém, em sua segunda temporada após ter retornado de uma grave lesão, Manning tem em suas mãos a chance de rebater as críticas e igualar o feito de seu irmão Eli, QB dos Giants, que venceu dois Super Bowls.

No entanto, do outro lado terá um dos QBs mais cirúrgicos e talentosos da liga. Brady não é apenas o marido da modelo brasileira. Tem em seu currículo 3 títulos em 5 Super Bowls disputados, ora! Isso dispensa qualquer comentário. Curiosamente, suas duas derrotas vieram das mãos de Eli Manning.

Vai ser uma partida francamente decidida no ataque e em quem cometer menos erros. Entendo que análises defensivas ficam em segundo plano diante de equipes claramente de vocação ofensiva. Os Broncos montaram uma linha ofensiva explosiva com Manning no comando. Wes Welker (ex-Patriots), Demaryius Thomas e Eric Decker são seus principais alvos e abrem um leque de preocupações no adversário. Pelo lado de New England, Brady reconstruiu o ataque dos Patriots com Edelman e Amendola, além de explorar as corridas de Blount.

Fica claro o favoritismo dos veteranos e deixa no ar a sensação de que o campeão sairá do vencedor da AFC.

Só que do outro lado, pela NFC, haverá uma eletrizante final que envolve dois jovens quarterbacks prontos para estragar a festa dos consagrados veteranos. Seattle Seahawks, de Russell Wilson, contra o San Francisco 49ers, de Colin Kaepernick.

Ano passado ambos foram destaque em suas equipes. Enquanto Kaepernick assumiu a titularidade dos 49ers e levou à equipe ao Super Bowl passado (perdeu para o Baltimore Ravens), Wilson levou o prêmio de melhor calouro do ano. Ou seja, essa final também se mostra imprevisível dado o talento e versatilidade de seus líderes. 

Para apimentar a final, os técnicos de cada time eram rivais desde os tempos de College Football!

Aparentemente, os 49ers apresentam uma defesa mais sólida e uma equipe mais experiente. Kaepernick explora muito bem seu jogo corrido e conta com ótima fase de Anquan Boldin, Crabtree e Vernon Davis. Tanto que mesmo tendo feita apenas a 5ª melhor campanha, despachou Green Bay Packers e Carolina Panthers.

Wilson ganhou folga na primeira rodada dos playoffs e quando entrou em campo mandou Drew Brees e o New Orleans Saints de volta para casa. O ataque dos Seahawks empolga e conta com Baldwin, Harvin, Golden Tate e o rápido Marshawn Lynch.

Em suma, vão ser dois jogões que farão um autêntico esquenta do Super Bowl. E nesse pega-pra-capar todo meu palpite é Broncos x 49ers.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Roleta paulista

Dos renegados campeonatos estaduais, o Paulistão nem de longe chega a ser empolgante como o vizinho carioca. Ainda que tenha sofrido uma repaginada na edição de 2014, 15 intermináveis rodadas só servirão para definir os rebaixados e quais serão as equipes do interior agraciadas com o direito de ir às finais e, assim, de fato, surpreender. Mas todo mundo sabe que os holofotes sempre estarão voltados para os quatro grandes do Estado.

Um desempenho bom no Estadual não significa nada. Até o título pode virar prêmio de consolação se não vier a tiracolo o Brasileirão, a Copa do Brasil, Sul-Americana ou uma vaga na Libertadores que seja. Mas, pela primeira vez em muito tempo, o quarteto fantástico paulista está fora do cobiçado torneio continental. Então, o Paulistão prepara o terreno para uma verdadeira guerra de cego usando foice.

O Palmeiras, recém-promovido à elite do Brasileirão e preocupado em fazer um bom ano centenário, saiu garimpando o mercado e trouxe um punhado de jogadores para abastecer a base interessante montada em 2013. Vale destacar as chegadas do veterano Lúcio, com passagem bizonha pelo rival São Paulo, e de atletas que tiveram desempenho regular na última temporada, casos de Diogo, Marquinhos Gabriel e William Matheus. No mais, apenas ilustres desconhecidos e jogadores que voltam de empréstimo (Mazinho Messi Black entre eles).

Agora sob a batuta de Oswaldo de Oliveira e com Leandro Damião no ataque, o Santos ainda protagoniza algumas novelas no mercado. Vargas, Bruno Uvini, Lucas Lima seguem negociando com o Peixe. Com contratações pontuais, o melhor time paulista no Brasileirão passado vai brigar pela SEXTA final consecutiva e, quem sabe, igualar o São Paulo em número de conquistas estaduais.

São Paulo e Corinthians pouco se mexeram no mercado. Sem vencer o Paulistão desde 2005, o Tricolor até agora trouxe o lateral-direito Luis Ricardo e deve apostar na base que quase foi rebaixada no Brasileirão passado. Já o Timão, agora com Mano Menezes no comando, trouxe Uendel, lateral-esquerdo ex-Ponte Preta, e está prestes a anunciar o volante Bruno Henrique e o lateral-direito Fagner para buscar trazer novo ânimo ao elenco que conquistou o mundo há duas temporadas.

Feito esse blá blá blá dos grandes, chama atenção o fato de que desde 2009 ou dá Corinthians ou dá Santos. A política do café-com-leite alvinegra desperta todo tipo de especulação e superstição em torno possível campeão deste ano.

Cravar que o vencedor será o empolgado Verdão, que não levanta o caneco desde 2008, ou o São Paulo de Muricy Ramalho conforta pela exceção que quebra a regra recente, mas não parece uma aposta certeira. Santos e Corinthians ainda esboçam alguma solidez mesmo com novos treinadores. E não há se esquecer que todo ano tem aquele time do interior engraçadinho que apronta e faz um barulho até as finais.

Bom, sabemos que a Federação Paulista já entregou a arma na mão do macaco. 

Saberemos o sorteado em 13.04.2014.