Caio Junior chegou ao Grêmio este ano para tentar dar uma nova cara ao Imortal, que foi apenas o 12º colocado no Brasileirão 2011. Mal o Estadual começou e os problemas começaram. Mal começaram. Menos de 3 meses de trabalho e a cúpula gremista resolveu decapitar o treinador.
Surrealismos à parte, vamos à suposta campanha desastrosa de Caio Jr: conquistou 4 vitórias, 1 empate e 3 derrotas. Classificou o Grêmio às quartas-de-final da Taça Piratini (equivalente ao 1º turno do Campeonato Gaúcho) justamente em 4º lugar no seu grupo. Exatos 4 pontos atrás de Novo Hamburgo e Caxias, e 3 atrás do Veranópolis.
Nada mal considerando que é início de temporada, de trabalho e o time está classificado para o mata-mata. Já que o confronto válido pelas quartas-de-final é logo um Gre-Nal, Caio Junior poderia muito bem cair em caso de revés frente ao maior rival. E, vendo bem, de absurdo somente a derrota na estreia para o Lajeadense, no Olímpico. No mais, empatou em casa com o Inter, e perdeu fora para Juventude (ex-time expressivo) e São José.
Entretanto, um único argumento põe em xeque qualquer visão menos crítica: o Rio Grande do Sul é azul ou vermelho e as demais equipes do Estado são incrivelmente limitadas, portanto, o sinal amarelo está piscante. Vamos comprovar tal fato de maneira didática. Novamente recorremos à maravilhosa Wikipédia para constatar que os últimos campeões diferentes de Grêmio e Inter foram Caixas (2000), Juventude (1998) e Renner (1954).
Pior que a hegemonia Real Madrid e Barcelona na Espanha, não?
Pior que a hegemonia Real Madrid e Barcelona na Espanha, não?
No que tange os reforços, bem, veio uma verdadeira baciada de jogadores. Marcelo Moreno, Kleber Gladiador, Grolli, Pablo, Sorondo (chegou e já saiu), Marco Antonio, Felipe Nunes, Leo Gago, Naldo. Bertoglio está chegando e Cristian Rodriguez está próximo. Fazer um time competitivo e entrosado em 2-3 meses não é desafio, é utopia.
As escalações mostram que Caio Junior não fez nada tão estúpido. Armou seu time ofensivamente, muitas vezes com três atacantes. Marcelo Moreno e Kleber Gladiador acompanhados de Leandro ou André Lima, por exemplo. Não deu liga, ué.
O treinador, ex-jogador tricolor, não conseguiu transformar a equipe no símbolo de raça e determinação no qual sua torcida exige. Nem mesmo o estilo hermano de torcer colaborou com o técnico.
Nessa onda de instabilidade o Grêmio optou por bancar a troca do comando técnico. Danem-se os resultados, a pré-temporada, a véspera do Gre-Nal que decide vaga na semi-final da Taça Piratini. Na velha filosofia do "antes tarde do que tarde demais", Vanderlei Luxemburgo chega para contornar o clima de desconfiança e dar um padrão a um Grêmio visto com desconfiança Brasil afora.
Em franca oscilação na carreira - com mais cara de curva descendente - Luxemburgo foi despachado do Flamengo, onde pagou o pato pelos atrasos de salário a jogadores, pela perda do controle do grupo ao ser conivente com alguns excessos de Ronaldinho, e ao bater de frente com o astro ao tentar reverter este quadro. Ao meu ver, arcou com uma culpa que era exclusiva da diretoria (entenda-se Patrícia Amorim, inclusive, já escrevi sobre o assunto).
Agora, chega para juntar os cacos de um Grêmio abatido, flagrantemente à sombra do crescimento meteórico do rival, tanto na qualidade do time/elenco, como - e principalmente - pelas campanhas nacionais e internacionais nos últimos anos.
Se a dança dos treinadores tocou cedo no lado azul do Rio Grande do Sul, o Grêmio acerta errando. Acerta ao tentar consertar e aprimorar o pobre legado de Caio Junior ao contratar um técnico experiente, vencedor, boleiro e que merece respeito por sua história. Jamais um clube dirigido por ele merece ser sumariamente desprezado.
Por outro lado, o Tricolor falha ao desperdiçar os dois meses destinados à pré-temporada. A "sorte" é que, na prática - e pela doutrina recente do futebol brasileiro - esse desperdício sequer é levado em conta nos resultados positivos. Só é lembrado nos negativos...