Após a classificação emocionante do Corinthians ontem, o Brasil parou para ver o Santos. A derrota para o Vélez, na Argentina, por 1 a 0 deu à partida uma roupagem especial. O Peixe jogaria fora de sua zona de conforto contra um rival capaz de defender-se bem.
Desde o início da partida o Santos foi para cima, fiel à sua filosofia de jogo. Encontrou um Vélez recuado e que explorava os contra-ataques sem desespero. Todas as tramas ofensivas passavam por Neymar. O lado esquerdo foi exaustivamente acionado, porém, pouco produtivo. O Santos tinha grande volume de jogo mas criava poucas chances efetivas.
Na pressão, quem tem Neymar não perde as esperanças. Cedo ou tarde, o craque poderia aprontar das suas e tranquilizar a torcida. Dito e feito. Aos 39 minutos, Neymar invadia a área em velocidade pelo meio até ser derrubado pelo estabanado Barovero que ignorou a bola e foi direto no corpo do atacante. Falta perigosa e cartão vermelho para o goleiro.
O tiro de Elano saiu ao lado. No entanto, a expulsão do goleiro forçou o Vélez a sacar Obolo, autor do gol argentino na partida de ida, para a entrada de Montoya. Com o final da primeira etapa, restava uma missão simples de fazer pelo menos um golzinho. Tinha Neymar, meio caminho andado, certo? Errado.
Mesmo recuado, quem surpreendeu foi o Vélez. Aos 8 minutos, Rafael quase foi surpreendido por um tiro despretensioso do meio-campo. Apesar de dominar o jogo, o Santos tinha sérias dificuldades em penetrar na defesa argentina. Para piorar, o Vélez sempre subia ao ataque com alguma gracinha, ainda que sem tanto perigo.
Aos 20 minutos, a sensação de "tudo ou nada" contaminou o time santista. Rentería entrou no lugar de Adriano. O Peixe era todo ataque e o Vélez desencanou de tentar prender a bola. Começaram os exageros na linha de fundo, cruzamentos, chuveirinhos. Neymar? Bem marcado, não conseguia driblar nem distribuir assistências.
Então, Muricy resolveu trocar Juan por Léo quando faltavam 17 minutos para o final do jogo. O ídolo do Peixe deu mais gás e mobilidade ao ataque. Dois minutos após a alteração, Kardec recebe cara-a-cara com Montoya e fez o impossível: chutou em cima do goleiro e desperdiçou A oportunidade. Um filme com Deivid e Diego Souza começou a passar na mente do torcedor santista.
Mas o Santos, que tinha Neymar apagado no segundo tempo, tinha também Léo. Aos 37 anos, Léo orquestrou a jogada que culminaria no precioso gol mínimo tão almejado. Recebeu na esquerda e passou para Ganso. Correu e tão logo recebeu na entrada da área, rolou para Kardec que, de canhota, não perdoou.
Do céu ao inferno, Kardec mostrou porque Borges amarga a reserva. Salvou sua pele graças ao passe açucarado de Léo que, quem diria, incendiou a partida!
O Santos ainda permaneceu no ataque, mas sem sucesso. A defesa do Vélez não cometeu novo vacilo e, na medida do possível, fez partidas ótimas. Anulou Neymar, ora. E tudo seria decidido nos pênaltis.
Martínez abriu para o Vélez. Kardec não se mostrou disposto a bancar o Diego Souza ou Robben. Bateu e guardou. Canteros mandou por cima. Ganso, que jogou no sacrifício, fez partida muito abaixo do esperado em razão da lesão no joelho. Mesmo assim, não desperdiçou sua cobrança. Rafael, goleiro de excelente potencial, defendeu o tiro de Papa. Elano (quem diria?) bateu bem e ampliou a vantagem do Peixe.
Sebá, da família "Aquele" (ex-Corinthians), tinha que converter para manter o sonho argentino vivo de encarar o Boca nas semi-finais. Encheu o pé no meio do gol e guardou. Restando ainda duas cobranças, Léo veio para a quarta cobrança. 37 anos, 7-8 anos de Santos, mais de 400 jogos pelo clube e presente nas principais conquistas do Peixe. Responsabilidade recebida com a tranquilidade de quem sabe da importância daquela bola. Léo parte e carimba a classificação do Santos!
Vendo bem, não foi uma grande partida do Santos. Mesmo com um Vélez recuado, o domínio do jogo não foi suficientemente capaz de abrir grandes brechas na zaga adversária. Houve momentos em que o time abusou de bolas alçadas na área e jogadas pela linha de fundo bem bloqueadas pelos argentinos.
Foi bom ver o modo como Léo entrou e praticamente atuou como meia. Ótima opção para o segundo tempo em situações complicadas, como a de hoje. Com tabelas curtas e rápidas, o time encontrou uma brecha no ferrolho argentino e achou o gol. Conseguiram se virar mesmo sem Neymar em noite iluminada. E sem Ganso, baleado.
Agora, terão o Corinthians pela frente. Sem Ganso, a tendência é a entrada de Bernardo. Depois de hoje, Léo pode ser improvisado? Bem, parece uma variação tática com a cara do Muricy. Transição rápida para o ataque e um atleta interessante para tentar conter os avanços de Paulinho. Enfim, impossível saber.
Fato é que o futebol brasileiro será contemplado com essa grande partida. A regularidade e o pragmatismo do Timão frente o futebol envolvente e alegre do Peixe. A exemplo de 2000, o Corinthians terá um rival do seu estado nas semi-finais. Pode não ser o eterno inimigo verde, mas é o Santos. Ou melhor, é esse Santos. Alguém arrisca dizer quem irá à final?
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