Paixão. Sentimento que tem o ingrato peso de ser sinônimo de amor e sofrimento. Curiosamente, ambas sensações envolvem o coração do torcedor de modo que todas as manifestações do pobre apaixonado beiram seus extremos. Ou ama ou odeia, simples assim. Agora, para apertar o peito dos fanáticos por futebol, está na moda um tal de "MOP", sigla que significa "my own player".
A sistemática é bem simples. É um fundo destinado ao público (torcedores de determinado time) que compram cotas (valores fixados pela gerência do fundo) para auxiliar seu clube do coração a fechar a contratação de certo atleta. De acordo com o MOPBR (www.mopbr.com.br), caso a negociação não seja confirmada, quem investiu na compra de cotas será devidamente ressarcido.
O Palmeiras busca por este expediente reunir fundos da torcida para bancar o meia Wesley. Vamos por partes. Wesley é bom, mas não é a mistura de Falcão e Cerezo para tanta engenharia e falatório acerca de sua contratação. Ainda que seu futebol fosse a peça perfeita para Felipão organizar de vez o time, é preciso separar de quem são as obrigações nesse negócio da China.
Considero uma brincadeira de mau gosto esse tipo de negociata. Claro, do ponto de vista exclusivamente financeiro é espetacular para o clube. Metem um anúncio "estamos atrás do craque Fulano". A torcida sabe quem é o Fulano, adora o Fulano, Fulano é Seleção, Fulano põe o Messi no chinelo, etc. Daí, maquiavelicamente a diretoria diz: "Bom, se quiser Fulano, tem que contribuir. O time anda sem recursos, crise internacional, sabe como é..."
Vale ressaltar que o fato do torcedor comprar uma "cota" não significa que ele será "cotista", ou seja, um investidor direto no atleta. Explicando melhor: Caso Fulano seja contratado por 5 milhões e futuramente seja vendido por 10 milhões, a grana é do time, do empresário, da empresa que gerencia o atleta e ponto. Não há um retorno proporcional ao investimento. O que fica claro é que o valor da cota somente será restituído se a negociação não se concretizar.
Torcedor não tem obrigação nenhuma de atrair para si uma responsabilidade que é do clube. É como o Código de Defesa do Consumidor ou na relação de trabalho, ora. O empregado não assume o risco da atividade da empresa, isso é um problema do manda-chuva. Aquela taxa indecente que alguns estabelecimentos cobram por perda de comanda é absurda. Quem tem que zelar pelo controle do que é consumido/comercializado é o bar/restaurante/o que for.
Além disso, aproveitando o embalo do caso Wesley, quem garante que, se contratado, vai jogar bem, ser campeão, virar ídolo, Rei da Cocada Preta? Hein? Ou o sonho de todo palmeirense é ver o Wesley com o manto do Verdão? Duvido.
Apreensão não falta àquele velho apaixonado, trabalhador, que sua sangue para batalhar sua imprescindível renda mensal. Lê jornal, ouve notícias e começa a se achar culpado pela fase do time, que poderia fazer algo para ajudar, afinal, vai ao estádio só umas 3-5 vezes por ano e compra uma camiseta oficial a cada 2 ou 3 temporadas mesmo...
Pronto. O caos. Tudo que o clube quer: sequestrar a paixão do camarada, botar uma faca em seu pescoço e esperar pela ajuda "humanitária". Transferir à torcida o ônus da contratação de reforços é tão obsceno quanto o BBB.
Por mais que a intenção seja louvável, não vejo com bons olhos o MOP. Se a diretoria abre mão de cumprir minimamente seu papel para contratar reforços de qualidade, o próximo passo qual vai ser? MOP para pagamento de salários atrasados?!
Vou além: E se a torcida reunir grande volume de dinheiro e a diretoria perceber que falta pouco para atingir o limite? Já imaginaram que o clube poderia escalar uns "laranjas" para comprar um punhado de cotas cada um e finalizar o negócio? Só para não ter que devolver a grana da torcida.
Ilustro: Negócio na base de 5 milhões. Torcida arrecada 4. Vai a diretoria e rapidamente gasta 1 milhãozinho nas cotas restantes. Já era. O produto que custava 5 vai ser comprado por 1. Entenderam a sacada? Isso às custas da torcida! Cara, isso me deu nos nervos!
Ilustro: Negócio na base de 5 milhões. Torcida arrecada 4. Vai a diretoria e rapidamente gasta 1 milhãozinho nas cotas restantes. Já era. O produto que custava 5 vai ser comprado por 1. Entenderam a sacada? Isso às custas da torcida! Cara, isso me deu nos nervos!
Teorias da conspiração à parte, todos os clubes do Brasil focam no Verdão e em como será o desfecho da negociação com Wesley. Se eu pudesse criar o final ideal haveria a devolução das cotas aos torcedores e o clube firmaria alguma parceria para viabilizar o negócio. Mas já estou grandinho para acreditar em Papai Noel e espero sempre o pior de qualquer situação.
Concordo com você, da maneira como está colocada hoje a MOP, porque não sei como está o controle das cotas “compradas” pelos torcedores, que nem se sabe quantos são... Ai a coisa fica feia, nós acreditaremos no numero que nos será passado de cotistas, pelo próprio clube. Bem, o montante total, vai saber quanto realmente será.
ResponderExcluirMas vejamos de um outro lado. Talvez seja o inicio de um processo de bolsa de valores com cotas (ações). Assim como aplicamos na bolsa, aplicaríamos nos nossos atletas, e receberíamos dividendos no caso do comercio deles. Isso não se limitaria ao futebol, poderíamos aplicar nos jogadores de vôlei, basquete, ou mesmo sem retorno tão rápido e certamente mais modesto, em ginástica olímpica, remo etc.
Com regras mais claras e retorno do investimento talvez valha a pena investir, independente do clube do coração.
Ah, e indo mais fundo, você poderá investir pesado num péssimo jogador do time adversário, você pode perder dinheiro, mas seu time pode ganhar o campeonato...
Irajá D.C.