Horas e mais
horas de discussão dentro do plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília,
para a aprovação da Lei Geral da Copa de 2014. Os parlamentares, que pediam a
palavra, estufavam o peito dizendo que será a melhor “Copa de todos os tempos”,
mas acabaram se esquecendo ou se esquivando do ponto polêmico sobre o consumo
de bebidas alcoólicas dentro dos estádios brasileiros.
Muitos diziam
ser a “favor do texto”, porém, ressaltavam ser contra a venda de álcool. Se
maioria dizia ser contra, por que não se chegou a um consenso e derrubava de
vez esse pedido da Fifa? Para se ter uma ideia do pensamento dos parlamentares, 161 deputados votaram a favor da "suspensão temporária" do artigo 13 do Estatuto do Torcedor, que proíbe a comercialização de álcool nos estádios.
Em entrevista há dois anos ao jornalista Cosme Rimoli, do
Portal R7, o promotor do Ministério Público de São Paulo, Paulo Castilho, já demonstrava ser contrário a venda de bebidas alcoólicas dentro das sedes dos jogos de 2014. Na época, o promotor usou o seguinte argumento: "as ocorrências dentro dos estádios diminuíram 80% depois que a cerveja foi banida". (Leia entrevista completa)
Deputados parecem ter virado as costas para o povo brasileiro Foto: Valter Campanato /Agência Brasil |
Nós todos sabemos que existe uma grande marca de cerveja por trás do Mundial de futebol e que a pressão é grande nos bastidores para que esse tema seja aprovado o quanto antes. O que não dá é fazer o povo brasileiro de bobo. Afinal, para que existe o Estatuto do Torcedor? Em maioria dos casos para nada, porque cansamos de ver situações de desrespeito ao que está escrito.
O problema maior não é a questão do consumo da cerveja ser liberado durante o Mundial, mas as consequências futuras de uma determinação desse porte. Uma lei, mesmo que negociada com os estados sedes, poderá abrir portas para que retornemos ao passado.
Tudo bem que existe claramente o consumo de álcool na porta dos estádios, basta ir a qualquer jogo e constatar o comércio, mas de certa forma existe um "controle", já que pessoas alcoolizadas não deveriam ter acesso aos estádios, pelo menos na teoria.
Agora o texto vai para analise do Senado, que deve votar igualmente aos colegas deputados e deixar a questão do consumo de bebidas alcoólicas cair no colo dos estados. Dessa forma, eles não criam atritos com os representantes da Fifa.
O que foi aprovado?
O texto base da Copa do Mundo de 2014 serve basicamente para dizer o que se pode fazer durante o Mundial e quais as punições para os desvios de conduta. Na votação de ontem, deputados conseguiram a façanha de reservar "1% dos ingressos para pessoas portadores de deficiência". Eles são distribuídos gratuitamente. A medida reforça a ideia de que realmente a Copa de 2014 não tem nada de inclusiva e que não será para o povo local.
Uma conta rápida aos amigos d´O Boteco Esportivo, um jogo de uma Seleção A contra uma Seleção B poderá ter capacidade de 45 mil torcedores. De acordo com o texto aprovado, dessa carga total, apenas 450 serão destinados aos portadores de deficiência. Será que o torneio vai ser realmente inclusivo?
Outro ponto já decido pelos deputados é com relação a meia entrada. Só os idosos terão direito ao benefício. Estudantes, pela proposta, terão os chamados "ingressos populares". Essa categoria também engloba os brasileiros que forem atendidos pelos programas do governo. O custo do bilhete será de US$ 25, pela cotação atual pouco mais de R$40. Resumo de conversa, benefício que é bom, nada.
Aproveitando o gancho de preços, sabe qual é o valor do ingresso mais caro para assistir a Copa no Brasil? Quem estiver a fim e tiver condições financeiras desembolsará por volta de US$ 900. Será que vale a pena?Para se ter uma ideia do "superfaturamento" no Brasil, a final da Super Copa entre Real Madrid e Barcelona teve ingressos custando R$216.
Para fechar, os nobres deputados validaram questões de interesse da própria Fifa, com relação a marca da entidade maior do futebol. Resumo de conversa com os amigos d´O Boteco Esportivo, a maioria dos brasileiros não levará vantagem em nada e terá que assistir os jogos, se quiser, pela televisão ou em telões espalhados pelas cidades.
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