Futebol. Uma bola, uns rapazes distribuídos igualmente e proporcionalmente por um campo ou uma quadra e eis o futebol. A expressão máxima do joguinho inglês sem graça que aprimoramos e transformamos em arte, em paixão.
Esqueçam essas coisas de marca, de trequinhos bonitinhos, arrumadinhos. Estou falando de camisa contra sem-camisa, várzea, casados versus solteiros. Isso que efetivamente faz o futebol pular do campo do entretenimento direto para o coração.
Amor. O futebol nasceu para ser amado e respeitado. Malditos sejam os empresários, as cotas de patrocínio, a busca incansável por receitas astronômicas, o comércio estratosférico de camisas na América, na Europa, na Ásia, em Marte. Quem manda no futebol esqueceu que ele é um ente familiar. Todo dia ele está ali. As notícias, os videos, os debates, as conversas no café, no bar, no almoço, no barbeiro, no trânsito, na tevê, no rádio.
O mundo precisa de mais futebol. Chega de discussões intermináveis sobre uso de tecnologias, quantos cartões distribuir, quantos jogos de gancho vai pegar, qual a gravidade do lance, meu deus, parem com isso! Lembrem por um instante de como é sublime o futebol.
Chutar a bolinha de plástico com o pai ainda segurando seus braços, pois as pernas mal tinham forças para sustentar o corpo ereto; improvisar meia, lata, garrafinha na hora do recreio e juntar as mochilas simulando duas traves; a tensão na escolha dos times; a alegria do gol; o riso no tropeço; a emoção do pênalti.
O futebol cresceu conosco. A emoção de ver o time na tevê, no campo, sorrir com o gol, frustrar-se com a derrota, aprender a tiração de sarro nos clássicos, reunir os amigos em casa para acompanhar a rodada.
Sempre que vou ao estádio perco uns bons minutos encarando tudo. A arquitetura, as arquibancadas, os bancos, as bandeiras, as marcas, as traves, a torcida, enfim, cada detalhe. Por um minuto, imagino aquele estádio inteiro vazio, como se o time dependesse exclusivamente do meu apoio para seguir lutando. Como se tudo que importasse era quem ia levar a melhor depois dos 90 minutos.
Arriscaria um grito. Um "uhhh!", talvez. Resmungaria, cuspiria no chão após outra jogada mal sucedida e cruzaria os braços reprovando o lance. Ou então tiraria minha camisa e a rodaria enquanto freneticamente canto como se minha voz fizesse o chute sair mais perfeito, a corrida ser mais longa, a intervenção ser mais precisa. Não sei.
Sei que não vi o futebol clássico. Não vi Pelé, não vi a Seleção de 82-86, nem sou do tempo no qual havia um traço mínimo de amor à camisa nos duelos entre clubes. Tampouco imagino como seria se as torcidas conseguissem compartilhar o mesmo espaço respeitosamente, independente do que estivesse em jogo.
Por mais que me doa na alma tudo que vejo de errado em campeonatos, diretorias, federações, cúpula de arbitragem, esquema de apostas, dentre outros bastidores (infelizmente tão influentes atualmente) tenho comigo a única certeza que carrego nessa vida além da morte:
Eu sei muito bem o que é futebol.
Isso ai biel... Uma pena essa magia do futebol ter dividido tanto espaco com o capitalismo... Mas sempre tenho o positivismo de que as coisas estao encaminhando para melhora...
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