sexta-feira, 13 de abril de 2012

Entrevista - Marco Aurélio Cunha

Entrevista!

Tragam mais copos, sirvam mais salgadinhos, puxem mais mesas e cadeiras! O blog conseguiu uma entrevista com o médico, ex-dirigente do São Paulo Futebol Clube e, atualmente, vereador pela cidade de São Paulo. Sim, estamos falando do folclórico Marco Aurélio Cunha.

A entrevista ocorreu nesta quinta-feira à tarde e o áudio completo tem 45 minutos totais. Vou transcrever resumidamente TODAS as perguntas e principais trechos das declarações do entrevistado. Quem preferir, pode acompanhar o áudio completo abaixo. É longo mas vale a pena.

Bom de papo, Marco Aurélio Cunha criticou os benefícios dados ao Corinthians, frisou a importância em se ajudar equitativamente os demais clubes da cidade, explicou por que o alvará para reforma do Morumbi ainda não saiu, deu sua versão da polêmica envolvendo o mandato de Juvenal Juvêncio, condenou a postura de Oscar, revelou uma pontinha de mágoa com o clube, comentou os quadros de Rogério Ceni e Cañete, mostrou-se otimista com o time e revelou qual sua meta política.

Enfim, com a palavra: Marco Aurélio Cunha.


O Boteco Esportivo: Há um-dois meses foi veiculado que a Prefeitura concedeu incentivos fiscais na ordem de R$ 420 milhões à Odebrech/Corinthians para construção do estádio. No entanto, a concessão foi ilícita e a Prefeitura realizou uma manobra para contornar a situação. Qual seu posicionamento a respeito disso?

Marco Aurélio Cunha: Realizar a Copa em São Paulo é importante. Apoiar onde ela ocorrerá também. O que eu critiquei foi a forma. Os incentivos, à época da Copa, totalizarão quinhentos e tantos. Acho um erro, um exagero. Devemos incentivar a prática. A forma como o contribuinte paulistano é afetado, eu discordo completamente.

OBE: Hipoteticamente, seria possível realizar uma Copa sem investimentos públicos?

MAC: Com organização e tempo, sim. Mas, por ser a Copa um evento nacional, que promove o país, traz turistas para conhecer, consumir, acho que investimento público pode ocorrer. Eu sou contra o abuso desse investimento. 

OBE: E o texto da Lei Geral da Copa? Gostou? Alguma alteração?

MAC: Se o presidente Lula se curvou perante tais exigências, é justo que eles tenham todo o direito de cobrá-las. Não vejo problema no consumo de bebida nos estádios. Acaba sendo um problema tratado com muita hipocrisia, até porque o sujeito consome fora do estádio e entra da forma como quer. Então, tem que se adequar essa questão cultural. Depois, tudo volta como antes. 

(A próxima pergunta seria sobre a expedição do alvará para que o São Paulo pudesse iniciar a reforma do Morumbi. O Dr. Marco Aurélio interrompeu para esclarecer que o alvará ainda não saiu e explicou que ainda faltam aprovações até a concessão do alvará provisório) - Ou seja, a reportagem veiculada com essa informação me traiu. Apesar da saia justa, fui corrigido e a informação chega correta.)

MAC: O que há são estudos que estão progredindo de esfera em esfera. Alvará é um só. As pessoas perguntam a mim o que falta. Não é um carimbo e pronto. Tudo tem regra, lei, Ministério Público, associação de moradores. O que foi aprovado é que a cobertura pode ser feita. Que ela não representa aumento no potencial construtivo do estádio. Isso foi fruto de um grande debate, pois antigamente era realmente uma casamata. Hoje os materiais são leves, a cobertura é para dar conforto, proteção do vento, do frio, da chuva, não é construção. Cada órgão técnico observa uma fração deste conteúdo. Inicialmente provisório e, depois, o definitivo, se estiver dentro dos padrões. Passa por câmaras e órgãos competentes até a devida aprovação. Fora isso, mudanças legais, é via Câmara Municipal, como a Lei de Zoneamento, que é quase impossível de ser alterada porque implica em mudança do Plano Diretor

OBE: Então não é possível iniciar as obras do Morumbi, mesmo que ciente dessa autorização de que a cobertura não integrará potencial construtivo? É necessário aguardar o alvará?

MAC: Outros órgãos técnicos virão analisar e aí fecha a questão, pode começar a obra com o alvará provisório. Depois disso, com tudo certo, sai o definitivo. 

OBE: O senhor mencionou a Lei de Zoneamento e a difícil alteração desta lei. Assim, o projeto que o São Paulo tem de construir um hotel dificilmente sairá do papel?

MAC: Nesse momento é mais difícil. Talvez em mais tempo. Veja, se eu quiser construir um hospital no Pacaembu eu posso? Não. Porque é região residencial. Não pode incomodar a vizinhança, gerar tráfego...agora, se um dia encontrarmos um local, próximo a uma via de mão rápida, aí cria-se uma situação para sua construção. Não é porque quer que sai. A mudança da Lei ocorre conforme a demanda, às vezes somos obrigados a modificar. Por exemplo, na Giovanni Gronchi, a Lei de Zoneamento prevê determinado limite de decibéis. Mas o barulho natural da região já é maior que a prevista na lei!

OBE: Primeira pergunta sobre São Paulo Futebol Clube, de fato. Quero saber sobre a polêmica do Juvenal Juvêncio. Ao meu ver, não é mau dirigente. No entanto, foi na contra os princípios do clube, de sempre posicionar-se como time de vanguarda, diferenciado. À parte as questões legalistas, se as alterações nos estatutos são válidas ou não, a que custo o Dr. acha que o SPFC age desta forma? Foi uma atitude meramente mesquinha ou Juvenal não vislumbrou um bom sucessor diante do momento conturbado do clube?

MAC: É uma análise complexa, mas vou dar algumas: Quando o SPFC discutia a Copa do Mundo, reformas, Morumbi, Cotia, entendeu-se que JJ era a pessoa mais preparada para seguir com esses projetos. Algo parecido com o que ocorreu com o ex-presidente Laudo Natel. Com relação à mudança para 3 anos de mandato era um pleito da própria oposição inclusive. Dois anos não dá para nada! Um ano você se estrutura e no outro está em campanha. Não dá! Todos queriam essa alteração. No caso do Juvenal, disse a ele que não precisava se reeleger. Era uma forma de sair por cima. Ninguém foi tricampeão no São Paulo e ele conseguiu esse feito. Foi dirigente campeão do mundo na época do saudoso Marcelo Portugal Gouvêa também. Ou seja, tinha que ter um sucessor. Mas JJ, apesar do apego ao São Paulo, com aquela postura paterna, não viu ninguém apto a substituí-lo.

Entretanto, uma das respostas boas que JJ tem tido ultimamente foi a saída de Ricardo Teixeira da CBF. Fica claro que essas cartas já estavam marcadas. A construção de Itaquera, Morumbi fora da Copa, isso ia acontecer mesmo. E, por incrível que pareça, o coordenador de tudo isso saiu. De repente, no melhor momento que ele teria. Quem tem razão com isso? Ao meu ver, o SPFC. Felizmente, e dou os parabéns ao JJ, não fizemos parte disso. 

Pesam contra: a concentração de pessoas e ideias. Ele poderia ser mais "divisível".  Acredito que tem sido um bom presidente, mesmo tendo perdido um pouco a mão do futebol após essa batalha com a CBF. Ele termina o mandato em 2 anos e espero que o clube se acerte. Minha saída é um pouco derivada disso. Preferi sair a brigar com pessoas que gosto. Discordo e não faço isso em público porque o SPFC é maior que desavenças. Hoje, mal sou convidado a jogos. E olha que trabalho, veladamente, pelo clube. Creio que, pelo que fiz lá, merecia um pouco mais de consideração

OBE: Caso Oscar. O presidente JJ deu entrevista semana passada à EstadãoESPN e, dentre outras declarações, deu a entender que Oscar não teria motivo para sentir rancor ou mágoa do São Paulo e que, talvez, estivesse sendo manipulado. O senhor partilha da mesma opinião ou aconteceu algo internamente que ainda não foi trazido à tona?

MAC: O menino sempre foi absolutamente bem tratado. Era muito querido. Eu mesmo tinha um relacionamento quase paternal. E quando eu deixei uma mensagem em seu celular avisando que tal litígio seria prejudicial, não seria bom para sua carreira, que o São Paulo é forte juridicamente, que pensasse bem, que voltasse...seus agentes pegaram a gravação e jogaram isso como se fosse uma coação. Eu não faria isso com ele. Alertei como se dá conselho a um filho. Se pegarem a gravação hoje dá pra ver que tudo que eu disse está acontecendo. E está na cara que o propósito é financeiro puro e simples. Eu não tenho problema em entender um litígio contratual. Assinou, se arrependeu, não gostou? Senta, discute. Se sentar e conversar, sempre haverá uma forma de acerto. Ele foi extremamente injusto com o São Paulo. Aqui, ninguém deixou de gostar dele. Só que fica chateado por ter colocado coisas que não são verdades. Se o problema fosse o contrato, ok, sou o primeiro a ajudá-lo. Mas dizer que não gosta de lá ou que não o tratam bem, isso eu não vou aceitar.

OBE: E Rogério Ceni? Notícias dão conta que a recuperação da grave lesão que o tirou de metade da temporada vai bem. Porém, vejo de outra forma, é um goleiro, veterano, com uma grave lesão no ombro. Rogério conseguirá retornar em bom nível? Haverá alguma sequela ou limitação de movimento? 

MAC: Sequelas sempre vão existir em atletas mais velhos. Mas a fisioterapia supera isso. E o Rogério sempre se supera, é impressionante. Hoje mesmo eu estive no CT. Vi o Cañete também (MAC afirma que ele volta em 3 meses. A lesão no cruzado posterior foi ainda mais grave que a de Wesley). A traumatologia esportiva está brilhante. Basta ver o Maikon Leite. A foto da lesão é coisa para nunca mais pisar num campo. E olha a velocidade que ele impõe! Evidente que o Rogério, com 39 anos, terá mais dificuldades. Porém, foi só uma lesão no ombro, curada. A proposta dele, e até a nossa, deve ser atuar esse ano e mais um e encerrar com 40 anos. O próprio Rogério afirmou que os goleiros do futuro do São Paulo são Denis e Léo. Bacana ver que ele mesmo promove sua sucessão. 

OBE: Falando do jogo de ontem, não sei o que o senhor acha do que vou dizer agora. O Robben, canhoto, habilidoso, rápido, atua no Bayern de Munique pela faixa direita do ataque. Quando ele corta para o meio, tem todo o ângulo aberto para o chute "com a perna boa". O São Paulo tem esse problema com Fernandinho e Lucas jogando no mesmo setor de suas "pernas boas". Quando corta para o meio, cai na "perna ruim". Que eu me lembre, o Thiago Ribeiro foi o último que vi, destro, atuar pela esquerda do ataque do São Paulo valendo-se desse tipo de jogada. O Osvaldo entrou ontem, e fez o gol de direita vindo da esquerda. Não acha que o São Paulo deveria apostar nessa inversão?

MAC: Acho sim. O Noriega até comentou ontem sobre a felicidade de ver o São Paulo jogar com 1 centroavante e 2 pontas. Ao cortar para dentro, o campo amplia. É bom ver que o ataque está bem servido. O time está evoluindo. O único problema são alguns erros individuais na zaga. Precisamos ser mais seguros defensivamente. E quem está jogando muita bola é o Cícero. Não é um meia criador de verdade mas é um estabilizador. Temo Jadson se adaptando ao time. Só falta a defesa não falhar tanto.

OBE: O senhor sempre foi conhecido por defender o São Paulo muito bem, dar entrevistas e declarações polêmicas. Sente falta de ligar a tevê e ver no SPFC alguém fazendo o seu papel?

MAC: Sinto sim. Falei com o presidente sobre essa expulsão do Casemiro contra o Mogi Mirim. Não pode, pô! Não foi violenta. Estão dando a entender que é proibido fazer falta. Fazer falta pode, ora. Fato é que estão dando muitos cartões amarelos gratuitamente ao SPFC. Aí, na fora que afunila, desmonta o time emocionalmente. Não sei se é má-fé ou casual, mas alguém tem que reclamar. Estamos sendo vítimas de cartões que, lá na frente, podem custar caro. Aquela expulsão do Casemiro, para mim, foi um absurdo!

OBE: É candidato à reeleição? Almeja mais cargos políticos? Prefeitura? Governo...?

MAC: Sou sim. Mas já faço muito aqui. Foram anos maravilhosos, desgastantes. A diferença entre o futebol e a política, é que aqui você não ganha nunca. Lá você faz um grande jogo, vence, reconhece e tal. Muito raramente alguém é citado positivamente. Aprendi muito politicamente aqui. Hoje sou um bom vereador. Aprendi, fui manipulado. Hoje, não. Sou corregedor, tenho decisões ativas aqui na casa. E vou tentar a reeleição como uma prova, para verificar se fiz mesmo tudo certo. Daí para frente, nenhuma pretensão. Só tenho uma: ser candidato à presidência do São Paulo.

OBE: Era justamente o que eu ia perguntar...

MAC: É um processo político difícil, tem muita gente boa. Uns tem um DNA mais puro, outros são mais prometidos, independente de currículo. Outros são eternos candidatos, uns mais novos e outros mais velhos. As eleições no SPFC ainda são bastante antiquadas. Espero mostrar currículo, vocação, conhecimento e integridade. Se tiver alguém melhor, eu me rendo.

OBE: E o Rogério? Vai ser presidente? Ele te confidenciou algo?

MAC: Dificilmente nos próximos 10 anos ele vai ocupar esse posto. Ninguém descalça a chuteira e entra na sala da presidência. É necessária preparação. E embora o Rogério seja excepcional, vai faltar ainda vivência, experiência. E tem que ganhar dinheiro também, né? Terá 10 anos para colher os frutos da carreira no esporte. Depois disso, mais maduro fora do campo, aí sim. Após aprender bem como funciona fora, tem tudo para ser presidente. E serei um dos primeiros a apoiá-lo.

(Tendo em vista que o áudio ficou grande e a conversão do arquivo ainda me é bastante tortuante, dividi o áudio em três partes, conforme abaixo)







6 comentários:

  1. Biel,
    PARABÉNS! Fico mt boa!

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  2. Parabéns Gabriel!

    A conversa ficou legal mesmo!!!

    Abçcs!

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  3. Excelente entrevista e iniciativa.

    Parabéns.

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  4. Parabéns, otima entrevista.

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  5. Parabéns pela entrevista Gabriel. Ótimas perguntas!

    Gosto do estilão do MAC. Parece bem racional e objetivo.

    Sempre morria de rir ao ver seus debates no cômico "Jogo Aberto" da Band. Era uma alfinetada atrás da outra...

    Abraços!

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