Não há clube paulista mais querido e charmoso que o Juventus. Não adianta querer ser clubista, nenhum time pode superar a atmosfera familiar que paira na Rua Javari. Em um tempo no qual o futebol é invadido por grandes investimentos, parcerias, empresários e tantas outras coisas tão somente relacionadas a dinheiro, o Juventus ainda resiste à sua maneira.
O Moleque Travesso não dá o ar da graça na elite do futebol paulista desde 2008. Passou a perambular a A-3 do Paulistão desde 2010. Esboçou uma reação ao subir à A-2 ano passado mas logo foi devolvido à Terceirona. Talvez o calvário grená encontre resposta no fato das diretorias seguintes terem achado uma boa estratégia trocar os esquadrões campeões da A-2 em 2005 e da Copa Federação Paulista em 2007 por elencos recheados de jovens e demais atletas de talento controverso ou sui generis. Só pode ser isso.
Nesta tarde o Juventus recebeu o Votuporanguense pela 2ª rodada do Paulistão A-3. Pega-se a escalação e não se conhece ninguém. Uma baciada de jovens e nenhum "Aquele" para servir de chamariz. Do outro lado, idem. Embora o time do interior tenha apostado em atletas com rodagem. Uma equipe com média etária de 26 anos e jogadores que vieram dos quatro cantos do Brasil.
Primeiro tempo correu sem maiores pretensões. Em São Paulo faz um calor desgraçado e a qualidade da pelada batida pelos jogadores - que já não era minimamente promissora - tornou-se praticamente insustentável até o intervalo.
Só que o segundo tempo foi ótimo! O canoli surtiu efeito e o Juventus voltou em cima, pressionando o Votuporanguense, que até ali fechava bem a casinha mas passou a vacilar perigosamente lá atrás. Foi assim que o Moleque Travesso bateu uns dois-três escanteios praticamente seguidos.
Subitamente a arquibancada passou a sentir o cheiro do gol. O Moleque Travesso dominava, era pouco ameaçado e passou a criar chances clamorosas de gol. Em uma delas, Dudu Mineiro invadiu a área sozinho e ao tirar do goleiro, tirou do gol também. Fernandinho foi acionado duas vezes na esquerda e mandou as duas para fora.
Só que o árbitro achou uma boa ideia fazer uma pausa para a água. Pobre, Juve, mal sabia o que viria.
No retorno, o Votuporanguense acertou a festa do caqui que sua defesa havia se transformado e passou a orquestrar contra-ataques assanhados para cima dos, literalmente, moleques.
Enquanto o jogo tomava contornos de deus-nos-acuda, Derli, melhor jogador de fato e de direito da meia-cancha grená - e tenho cá comigo que não faria feio em qualquer time da primeira divisão de qualquer campeonato - foi substituído. Não sei se foi cansaço, se foi uma lesão ou se foi apenas um estiramento cerebral do treinador Serginho.
Aos 37 minutos, falta perigosa para o Votuporanguense. Ir à Javari permite que o torcedor tente filmar com alguma qualidade os lances de bola parada na ilusão de que vai ter um gol eternizado em vídeo. Pois bem, pego o celular e estou lá falando com um coroa qualquer sobre a falta. Ele me alerta sobre algum defeito na barreira. Eu acrescento com um comentário meteorológico cretino "o sol tá na cara dele!". E ambos acertamos. A bola passa da barreira, o goleiro vai mal no lance e é gol.
Mais uma vez a torcida deixa a Javari cabisbaixa. O Juventus jogando como nunca e perdendo como sempre. Essa tem sido a impressão cravada na retina da Mooca. O time vai, joga, tenta, mesmo sendo ridículos tecnicamente e ainda que tenha dominado a partida por uma fração de segundo ou tenha desperdiçado um gol, o deus cristão boleiro só castiga o nosso gol.
Agora já não importa. Perdemos. Mas haverá outros jogos. E neles haverá moleques dispostos a fazerem a famigerada travessura. Claro que podemos ser as vítimas, nos acostumamos a ver o feitiço virar contra o feiticeiro. A amargar castigos depois de cada arte feita. Mas eu disse que não importa. Enquanto a Javari estiver em pé, teremos torcida. Os que gritam, os que apoiam, os que xingam, os que se calam e rezam mantras ao roer as unhas. Mas lá estarão e é assim que o Juventus resiste.
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