Tudo na vida envolve um certo tipo de risco. Mudar de emprego, comprar um carro usado, ter uma amante, investir na bolsa. Tudo. No futebol não é diferente. A contratação de atletas desconhecidos ou velhos figurões trazem os riscos naturais de qualquer negociação e até a influência da profissão em si, afinal, futebol se resolve no campo. Com a devida ciência dos riscos, Corinthians e São Paulo estão prestes a selar a troca mais polêmica dos últimos anos: Jadson (meia tricolor) por Alexandre Pato (dispensa comentários).
Antes de dar a minha opinião sobre o negócio em si é necessário pontuar algumas coisas que antecederam a troca:
- Jadson tinha apenas mais um ano de contrato e já sinalizava que não iria renovar com o São Paulo. O Tricolor precisa de opções de qualidade para o ataque já que Ademílson e Osvaldo não suficientemente capazes de jogar bem regularmente.
- Luís Fabiano precisa de uma sombra posto que passará dias lesionado, suspenso, poupado, dentre outros impedimentos quaisquer.
- O Corinthians investiu mais de 40 milhões de reais em Pato, sem contar os salários de um ano de contrato, e acumulou decepções com o jogador. (lembram-se da cavadinha contra o Grêmio? Precisa mais?)
- Sem Douglas (foi para o Vasco), o time está refém de Danilo na armação já que Renato Augusto virou pensionista do departamento médico. No mais, Romarinho, Rodriguinho e -inhos diversos são velocistas e não tem característica própria de municiar o ataque com a devida competência.
Isto posto, o Timão foi atrás de Jadson para solucionar o problema de seu meio-campo. Daí surgiu a possibilidade de incluir Pato na negociação e o resto todo mundo sabe.
O UOL fez uma matéria interessante com pormenores contratuais que vale a pena uma passada de olhos (ver aqui). Embora eu tenha cá minhas dúvidas se não há mais detalhes contratuais que passaram batido ou não tenham sido divulgados, fato é que a troca é interessante para ambos.
Com Pato, o São Paulo ganha um atacante experiente, rápido, técnico e capaz. Sim, está em má fase, não é um guerreiro dentro de campo, mas é inegável que é diferenciado. Pode agregar e pode estourar, desde que queira, óbvio. Caso vá bem, tem totais condições de ser negociado novamente com o exterior e deixar definitivamente o Brasil e fugir de toda pressão que aqui tem passado.
Já o Timão ganha um meia inteligente, experiente, de bom passe e boa qualidade na bola parada e que pode reorganizar a meia-cancha alvinegra de acordo com as instruções de Mano Menezes, técnico que convocou Jadson para a Seleção.
Porém, na prática, a teoria é outra. Ambos jogadores estão em uma fase desgraçada profissionalmente. Jadson nunca foi o meia que o São Paulo quis. Teve seus bons momentos, principalmente em 2012 quando o Tricolor levou a Sul-Americana. Mas sempre alternou demais, nunca foi constante. Com a chegada de Ganso, amargou o banco e não se empenhou tanto em sair dele.
E Pato, mesmo tendo sido vice-artilheiro do Timão ano passado, não justificou o investimento insano. Simplesmente não houve retorno. O atacante não adequou seu estilo à filosofia do bando de loucos e pouco a pouco sabotou seu futebol. Limitou-se a peregrinar pelo campo à espera da bola ou do passe perfeito e, com isso, finalizações e gols rarearam. Não por isso foi presença constante no banco e, quando chamado, foi pouco eficaz.
Para recuperar o bom futebol tem-se, então, que a troca, futebolisticamente falando, é boa para todo mundo, clubes e jogadores. Todavia, o negócio, ao meu ver, favorece o Timão.
Isso porque o Corinthians receberá o meia em definitivo. Vai emprestar Pato até o final de 2015 e seu contrato somente vence no final de 2016. Ou seja, terá mais um ano para resolver o que fazer com ele. É verdade que terá que arcar com 50% de seus vencimentos. E pagar Jadson integralmente. Mas está recebendo um jogador e repassando outro por empréstimo! Em princípio, é lógica.
Não é só. Vamos supor que Pato vá ao Morumbi e volte a ser aquele ótimo atacante e receba uma proposta irrecusável. O Timão vai poder vender! E o São Paulo só vai receber uma porcentagem do lucro que eventualmente o Corinthians tenha. Isso se receber, pois caso essa proposta do além venha até julho, o atacante sai na hora. Ora, Pato vai ter que comer grama e fazer o milagre da multiplicação dos gols no São Paulo para, quem sabe, trazer algum lucro ao Tricolor.
O São Paulo aposta alto na recuperação de Pato e na possibilidade de formar um ataque avassalador com Luís Fabiano e Pabón para retomar o caminho dos títulos. E o Timão recebe um meia rodado, disposto a ganhar uma nova sequência como titular sob comando de um treinador que confia em seu potencial. Tudo pode dar muito certo ou muito errado, ora.
Todos cantam em verso e prosa o prejuízo que o Corinthians teve - e ainda terá pois arcará com parte do empréstimo de Pato - mas o negócio é potencialmente ótimo para o Timão que tem condições reais de, no mínimo, reduzir seu déficit. Se o investimento não está trazendo o retorno necessário, deve-se criar alternativas para salvar o negócio, é business.
A melhor das hipóteses indica que Pato vai jogar muito bem no São Paulo, receber uma boa proposta, ser vendido e adeus. Ele sai, o São Paulo fica desfalcado, o Corinthians enche o bolso e ainda fica com um meia. Isso se os times não fazerem um novo negócio da China que resulte na compra do atacante pelo Tricolor, a depender de seu desempenho. Vai saber.
Há, entretanto, um fator determinante para que isso aconteça: Pato.
Se Pato estiver disposto a recuperar seu espaço no futebol, na Seleção ou simplesmente querer se vingar de todas as críticas que vem recebendo, ele vai jogar bem no São Paulo a ponto de reconquistar a confiança dos europeus, dos russos, dos chineses, dos árabes e fugir dessa panela de pressão de cobranças justas.
É um risco, não dá pra saber o que vai ser.
É o mesmo risco que o Corinthians corre com Jadson, mas em menor escala. Pode ser que o meia, tão low profile quanto Pato, continue a oscilar demais. Entretanto, é bem mais provável que Jadson tenha mais confiança e tranquilidade para voltar a jogar bem do que Pato, já criticado pela torcida do São Paulo sem nem ao menos ter sido apresentado oficialmente.
Qualquer tipo de manifestação contrária à troca e ofensiva a qualquer dos jogadores é bobagem. É indispensável esperar alguns jogos para dar início às críticas. São bons jogadores em péssima fase e merecem acolhida das torcidas pois, para reconstruírem suas carreiras, dependem de ajudar seus respectivos times. Por seu turno, a torcida deveria, no mínimo, apoiar primeiro e cobrar depois.
Por mais que seja uma questão de risco negocial, entendo que os times e jogadores podem se dar muito bem nos novos lares. Ainda que Pato tenha que superar uma desconfiança maior dos novos adeptos e Jadson possa receber uma dose a mais de tolerância. Só que eu não consigo não vislumbrar certa vantagem do Timão nesse negócio todo.
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