segunda-feira, 7 de abril de 2014

Iludir-se é preciso

Futebol é paixão, é talento, é emoção, é todo tipo de sentimento lindo de cantar em verso e prosa entre sorrisos e abraços de amigos ou ilustres desconhecidos numa propaganda qualquer. Esquecem que o futebol também é feito de ilusão. Sem dúvida nenhuma, é esse ingrediente que temperou e trouxe algum sabor às partidas finais de um tal Paulistão.

Quem parou para assistir ao primeiro duelo da final do Paulistão o fez por instinto, pela praxe de se sentar em frente à tevê às 16 horas. Silencioso, murmurou quão legal seria ver o simpático clube de Itu campeão Paulista mas já ciente de que iria ter que se contentar em ver o Santos dominar completamente a partida enquanto o Ituano esboçaria certa solidez defensiva configurando nada além do que uma honrosa resistência ao ataque adversário mas que, cedo ou tarde, sucumbiria diante da artilharia pesada dos Meninos da Vila. Ao final, todos se lembrariam que não se tratava propriamente de uma final. Era tão somente um protocolo.

Só que aos 20 minutos do primeiro tempo, Cristian acendeu o fogo da ilusão na mente de cada um de nós. A jogada fantástica, digna daqueles garotos a trajar branco, resulta na finalização cruzada do meia. Então uma enxurrada de pensamentos vem à tona. Coisas como "é só segurar" seguidas de "tomara que encaixem mais um contra-ataque" contrastaram com a ponderação de que "hmft, é cedo. Logo o Santos empata, vira e goleia". 

Tal consideração tomou força quando foi assinalado pênalti mandrake para o Santos apenas 15 minutos depois do gol. Lembranças de um aguerrido Guarani atropelado em duas partidas em 2012 deram o ar da graça.

Porém, Cícero, certamente em sinal de protesto ou confuso com qual modalidade de futebol exercia seu ofício, anotou um field goal de aproximadamente 59 quilômetros. Uma vez garantia a manutenção do placar, a televisão insistia a nos iludir com aquele resultado surreal.

O Peixe tentou de tudo. Oswaldo apelou para Rildo e Stéfano Yuri mas, inexplicavelmente, não seu certo. Inclusive, até permitiu algumas investidas dos rivais nos contra-ataques. O Ituano provou porque possui a melhor defesa do Paulistão e garantiu o 1 a 0. Ao mudar de canal, o mantra agora ensaiado mentalmente remetia ao Santo André que em 2010 chegou muito perto de realizar o milagre do título.

Domingo que vem o Ituano joga pelo empate. Se o Santos devolver a vitória por um gol de diferença, o jogo irá para os pênaltis. A qualidade e a regularidade do Santos dão a certeza de que a atuação fora do normal não deve se repetir. Que diga o São Caetano em 2007. Abriu 2 a 0 e na semana seguinte caiu pelo mesmo placar. 

A história ratifica que o triunfo dos bravos de Itu é uma ilusão. Mas o que tem? A verdade é que é possível.


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